Ana Carolina Prado 4 de outubro de 2011 link original: http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/cogumelos-alucinogenos-podem-provocar-alteracoes-permanentes-na-personalidade/
Um estudo da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins descobriu que a psilocibina, substância presente em cogumelos alucinógenos do gênero Psilocybe
(que ficaram famosos nos anos 60, especialmente entre os hippies), pode
provocar mais do que viagens psicodélicas duradouras. Uma única dose da droga foi o suficiente para causar mudanças permanentes de personalidade em 60% dos 51 voluntários da pesquisa.
As alterações envolveram a intensificação de um conjunto de aspectos
da personalidade conhecido como “abertura”, que inclui imaginação,
estética, sentimento e ideias abstratas. Segundo os pesquisadores, essas
mudanças foram mais intensas do que aquelas que ocorrem naturalmente em
adultos saudáveis ao longo de décadas de experiências de vida.
Para o estudo, os voluntários foram submetidos a até cinco sessões de
oito horas de consumo da psilocibina, com intervalos de pelo menos três
semanas entre as sessões. A quantidade do alucinógeno variava, mas
ninguém sabia quanto estava consumindo. Durante cada sessão, os
participantes foram incentivados a se deitar em um sofá e focar em suas
experiências interiores. Para evitar distrações exteriores, eles usaram
uma venda e fones do ouvido.
Foram feitas avaliações de personalidade em várias ocasiões: na hora
da seleção dos voluntários, depois de um ou dois meses de cada sessão de
drogas e cerca de 14 meses depois do fim dos testes. Muitas das
alterações já foram observadas depois da primeira dose e perduraram por
mais de um ano, o que faz o professor de psicologia Roland R. Griffiths,
líder do estudo, acreditar que sejam permanentes.
A avaliação verificou não só a “abertura”, mas também outros quatro
aspectos que, segundo os psicólogos, compõem a personalidade: neuroticismo, extroversão, afabilidade e consciência.
Nenhum desses quatro, porém, teve mudanças significativas – mas é
importante dizer que isso só aconteceu nos voluntários que encararam o
efeito da droga como uma “experiência mística”, que se define como “um
sentido de interconexão com todas as pessoas e coisas acompanhado por um
sentimento de sacralidade e reverência”.
Fins terapêuticos
A psilocibina não causa dependência, mas pode gerar tolerância,
fazendo com que as pessoas precisem aumentar a dose para sentirem os
efeitos. Griffiths acredita que ela pode ter fins terapêuticos se usada
com acompanhamento médico. Ele está fazendo estudos para ver se o
alucinógeno poderá ajudar pacientes com câncer a lidar com a depressão e ansiedade,
bem como ajudar fumantes a largarem o vício. “Pode haver aplicações
para esta substância que nós não podemos sequer imaginar neste momento”,
disse ele. “Isso certamente merece ser estudado sistematicamente”.
Alguns dos participantes relataram ter sentido forte medo ou
ansiedade durante algumas das sessões, embora não tenha sido relatado
nenhum efeito nocivo prolongado. É por isso que, segundo Griffiths, é
necessário que o usuário receba um monitoramento de perto: se os
alucinógenos forem usados sem supervisão médica, o medo e a ansiedade
podem levar a comportamentos prejudiciais.
A pesquisa, aprovada pelo Conselho de Revisão Institucional da
Universidade Johns Hopkins, foi financiada em parte pelo Instituto
Nacional de Abuso de Drogas e publicado no Journal of Psychopharmacology.
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