[Do lat. gula, 'esôfago', 'garganta'.] S. f. 1. Excesso na comida e na
bebida. [Cf. glutonaria.] 2. Apego excessivo a boas iguarias. [Sin. ger.:
gulodice ou gulosice.] - (reescrito em 04/10/03) link original http://sistinas.com.br/sete-pecados-capitais.html
Estou numa sala de chat, usando um apelido um tanto óbvio e por isso mesmo
ridículo. Como idade não se aplica à um ser como eu, então minto, enquanto leio
na tela fria um quarentão cantando virtualmente meninas de treze à dezessete
anos.
Uma delas lhe responde: "Ainda sou virgem, mas já deixei colocarem a pontinha do
pênis na minha bundinha e confesso que adorei, mas dói um pouco, acredito que na
frente seria melhor, mas não me decidi ainda", e então eu resolvo perguntar se o
elemento tem filha. Ao fundo outra garota dizendo ter quatorze anos pede por
fotos de dupla penetração.
É, a humanidade caminha doente. Agora vivemos na era da internet. Das
experimentações, dos relacionamentos descartáveis. Em outras palavras...
promiscuidade! Uma mulher me passa seu celular após vinte minutos de conversa,
tudo por que prometi levar mais dois amigos ao encontro, assim poderíamos todos
transar com ela. Tudo mentira, obviamente.
-Você é casada? - pergunto à uma delas, que usava um apelido extremamente
desagradável. "Oito entre dez amigas minhas traem seus parceiros, algumas são
bem casadas, até. Não teve namorado nenhum meu que não tenha levado um par de
chifres." - foi a resposta que li no meu computador.
Incrível, mas nada surpreendente. Resolvi então investir numa presa fácil.
Nettie era adorada no mundo virtual. A internet era seu território de caça.
Nunca tinha mostrado sua foto para ninguém, talvez por ser meio gordinha, fora
dos atuais padrões de beleza. Usava o simpático apelido de Pinhead por ter
piercings no umbigo, nos mamilos, nas orelhas, nas sobrancelhas, no nariz,
dentro da boca, nos lábios e... naqueles lábios também. Eu sabia disso tudo pois
já tinha conversado com ela outras vezes, mudando sistematicamente de apelido e
personalidade.
-Me diga, você é muito gorda?
-Sim - ela digitou, meio sem graça - estou fora do peso, se quer saber. Talvez
por eu ser gulosinha...
-Ah, gulosa? Eu gosto assim. Relaxe, também gosto de ter carnes para apertar. -
tentei enganá-la.
-Sou muito gulosa mesmo. - ela respondeu, distraída, talvez por estar
conversando com mais umas três ou quatro pessoas de seu fã-clube virtual.
Gostavam tanto das sacanagens gratuitas que ela teclava e de seus exóticos
pedaços de metal encravados no corpo que esqueciam de perguntar sua aparência.
-Vou te mostrar um novo tipo de gula, Pinhead.
-Quando? Onde? - ela se animou, respondendo automaticamente, como se esperasse
muito por ler essa frase.
-No motel que você escolher. - digitei rápido.
-Mas... assim? Nem te conheço.
-E precisa? Diga que não quer então. - provoquei.
-Quero sim. Caramba, estou toda molhadinha. Vamos marcar algo AGORA. - ela
aceitou. A presa engolira, ainda não literalmente, a isca. Na verdade, devia
estar molhada de suor entre as enormes coxas, de tanto roçá-las, mas claro...
adoram digitar isso na internet! Como se me afetasse.
Pinhead foi ao meu encontro, e fazia juz ao apelido. Apesar de não ter nenhuma
tatuagem, seu corpo era lotado de piercings. Suas orelhas tinham mais metal que
cartilagem, e, caramba... ela era MUITO gorda, obesidade quase mórbida. Tanto
melhor, pois eu estava faminto. Apaguei a luz.
Na penumbra do quarto do motel, ela tirou a pesada roupa que vestia. Uma mulher
enorme com unhas pintadas de preto, basicamente. Às vezes um piercing brilhava,
refletindo a pouca luz que entrava pela janela. Seus seios, além de gigantescos,
eram um pouco flácidos. Pontudos, um dos mamilos era atravessado por uma grossa
argola. Foi onde encostei a boca primeiro.
-Veremos quem é o guloso de verdade, Nettie. - eu rosnei, e vi medo estampado no
olhar dela. Mas ainda não era hora disso, queria excitá-la antes, para impregnar
seu sangue com a sensação: "Abra as pernas, quero ver o que pendurou no
clitóris".
Era o símbolo feminino. Um símbolo encravado no outro, eu diria. Encostei a boca
devagar, e o metal estava umedecido, todo melado mesmo, e quente, mas seus
lábios vaginais estavam mais, tanto que até pareceu queimar levemente minha
língua. Sei disso porque engoli de leve o piercing, trazendo suas carnes
molhadas junto. Senti a textura do metal e o gosto da mulher excitada. Quis
morder, comer sua carne. Mas ela ainda podia gritar e...
-Deixe-me ver o piercing da sua língua, Nettie?
Ela estava com a cabeça jogada para trás, gemendo. Ajeitou-se, um pouco nervosa
por eu ter parado de lamber e chupar seu grelo, e, como uma criança má, mostrou
a língua para mim. Não parecia um piercing, de tão grande. Era quase um prego.
Quando o senti entre meus dentes, durante um beijo, fiz força e puxei...
Horas mais tarde, o delegado estava perplexo:
-Então policial Nielsen, que pode me dizer? E os documentos da vítima? - Nettie,
ou o que tinha sobrado dela estava na cama ainda, uma poça de sangue e carne
mastigada, com todo metal de seu corpo arrancado à dentadas.
O subordinado coçou a cabeça, como se pressentisse uma bronca do chefe:
-Eles não se identificaram na entrada. A moça da recepção disse que
estranhamente "não sentiu vontade" de pedir seus documentos.
-Entraram num motel sem ao menos mostrar documentos? Que espelunca é essa,
afinal? - reclamou o chefe, enquanto manuseava um símbolo feminino em metal todo
ensangüentado, "de onde seria esse piercing?"
-Me desculpe policial. - interrompeu o dono do estabelecimento - Nem sempre os
clientes fornecem identidade. Sabe, alguns são casados, ou casadas, e estão com
outros parceiros, e preferem... sei lá, você entende, não?
-Privacidade, promiscuidade... - resmungou o chefe de polícia - Quanta
imundície! Mas, e quanto à essa moça canibalizada? Ninguém aqui escutou enquanto
ela gritava?
-A língua dela está mais bifurcada que a de uma cobra. Foi quase arrancada de
sua boca. - os peritos estranharam o fato de que os piercings foram todos
cuspidos nas paredes, mas apesar disso em nenhum deles se encontrou sinal de
saliva.
"É como se o homem que fez isso não tivesse fluídos corporais. Não deixou rastro
algum!"
-Mas pelo jeito, de sangue ele está encharcado! Alheio, claro! - terminou o
chefe, assustado com sua própria conclusão. Será que...?
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