Alguns fãs dos Beatles acreditam que Mark Chapman matou John Lennon a mando da CIA, do FBI e da direita americana. Outros acham que tudo foi mesmo obra do diabo.
por Leandro Steiw link original http://super.abril.com.br/cultura/john-lennon-quem-acabou-sonho-446327.shtml
TEORIA - O assassino de Lennon é inocente
OBJETIVO - Chapman deu os tiros, mas os verdadeiros culpados estão soltos
O lunático americano Mark Chapman
não agiu sozinho na noite de 8 de dezembro de 1980, quando acertou
quatro tiros à queima-roupa em John Lennon, em frente ao Edifício
Dakota, em Nova York. Chapman puxou o gatilho de seu revólver calibre 38 a mando da CIA, do FBI e de membros da extrema-direita
dos Estados Unidos. Diversas teorias sobre a morte do ex-beatle
surgiram 25 anos depois do ataque. Mas nenhuma é tão eloqüente quanto a
do advogado e jornalista britânico Fenton Bresler, autor do livro Who
Killed John Lennon? (Quem Matou John Lennon?, sem versão em português).
Bresler não tem dúvidas: o músico foi eliminado por ser tido como um
extremista e uma influência subversiva à juventude americana.
Ele acredita que vários fatos confirmam a teoria conspiratória.
Primeiro, Lennon foi realmente investigado pelos órgãos de inteligência
dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. Segundo, seu visto de imigrante
foi negado várias vezes pelo governo americano, que ainda tentou
deportá-lo. Terceiro, o assassinato aconteceu às vésperas de a ala
conservadora do Partido Republicano retomar o poder nos Estados Unidos.
Para piorar, uma nova informação apareceu em 2004: o serviço secreto
britânico, o MI5, desconfiava de ligações de Lennon com o Exército
Revolucionário Irlandês, o IRA.
A conspiração levou 11 anos para chegar ao último capítulo. Tudo
teria começado em 1971, quando Lennon realizou o concerto Free John Now
Rally, pela libertação do poeta e ativista político americano John
Sinclair, preso por porte de maconha. Até 1976, a vida do roqueiro foi
vasculhada por espiões e grampos telefônicos, virando um dossiê de 300
páginas. O FBI e a CIA
julgavam Lennon um radical perigosíssimo, pois tinha a capacidade
invejável de se comunicar com milhões de jovens, aqueles que aprenderam a
amá-lo como um dos Beatles.
Qualquer idéia subversiva seria rapidamente aceita pela juventude. O
governo americano precisava detê-lo a qualquer custo, pois estava em
jogo a segurança do país. Segundo Bresler, a solução encontrada foi a
mesma já destinada a Martin Luther King e outros líderes populares do
país: o extermínio. Só que, em 1976, a linha-dura dos republicanos
perdeu as eleições presidenciais para os democratas. Mais arejado, o
novo presidente, Jimmy Carter, segurou o ímpeto assassino da polícia
federal e do serviço secreto. Assim, Lennon conseguiu o green card e
decidiu fazer um retiro profissional, sob a alegação de acompanhar o
crescimento de Sean, seu segundo filho, o primeiro com Yoko Ono. Foram
anos de paz, nos quais ele e a família puderam viver em segurança nos
Estados Unidos.
Como se sabe, também foram os últimos anos de vida do músico. Em
1980, os republicanos venceram as eleições e logo reassumiriam o poder.
Nos últimos meses de governo, Carter já não mandava em ninguém, muito
menos no FBI e na CIA.
Ao mesmo tempo, Lennon estava lançando um novo disco, Double Fantasy,
que rapidamente estourou nas paradas de sucesso. Segundo Bresler, os
conspiradores decidiram iniciar o novo mandato presidencial sem o temido
extremista de esquerda. O agente de carreira William Casey, que
administrara a campanha vitoriosa de Ronald Reagan e nos anos seguintes
se tornaria um dos mais poderosos chefes da CIA, ganhou carta branca para matar Lennon antes do final de 1980. Segundo a teoria de Bresler, o assassino, Mark Chapman,
já estava sendo preparado pelo programa de controle mental do serviço
secreto americano (leia mais na página 68). Ele viajaria do Havaí para
Nova York, procuraria a vítima e mataria Lennon a sangue frio, à frente
de testemunhas que, posteriormente, pudessem identificá-lo como o
criminoso. Essas testemunhas – isso é fato – foram a viúva Yoko Ono e o
porteiro do edifício Dakota, Jose Perdomo.
Ninguém contesta que Chapman atirou no ex-beatle. Mas as contradições, segundo Bresler, provam que ele não arquitetou o assassinato. A Justiça condenou Chapman
sob a alegação de que ele buscava os seus 15 minutos de fama nos
Estados Unidos. Certo, matar uma celebridade colocaria qualquer um nas
capas dos principais jornais e revistas do país. No entanto, o detetive
Arthur O’Connor, a primeira pessoa a conversar reservadamente com o
assassino, disse que a acusação não fazia sentido, pois Chapman
sempre evitou a imprensa. Por que alguém em busca da fama se negaria a
dar entrevistas? Meses após o ataque, ele anunciou que matara Lennon
para promover a leitura do livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J.
D. Salinger. O estranho é que, antes disso, nunca tinha falado com
amigos sobre a obra do escritor americano. Já preso, Chapman
declarou à BBC: “Ele (Lennon) passou por mim e então ouvi na minha
cabeça, ‘faça, faça, faça’. Não me lembro de mirar. Apenas puxei o
gatilho com força, cinco vezes”. Afinal, que vozes eram essas? Chapman
não tinha passado de maluco. Ao contrário, levava uma vida social
normal e era considerado um excelente monitor em acampamentos de
garotos. A explicação: alguém só poderia estar controlando a mente de Chapman.
Uma nova revelação, divulgada em 2004, jogou luz sobre a tese de
complô. David Shayler, ex-agente do MI5, disse que os governos britânico
e americano trocaram informações sobre a suposta doação de 75 mil
libras do músico ao IRA. Sob suspeita de apoiar e patrocinar os
terroristas irlandeses, Lennon precisava ser eliminado. A viúva, Yoko
Ono, negou a ligação do marido com o IRA e lembrou que ele defendia os
direitos civis. Entretanto, os arquivos existem e estavam classificados
pelo FBI
como de “segurança nacional”. Isso mostra que o autor de “All You Need
is Love” era investigado de perto pelas inteligências americana e
britânica no início dos anos 70.
Demônios à solta
Para um astro da grandeza de Lennon, apenas um complô seria pouco. A
segunda causa da morte envolve forças mais poderosas do que os governos
da Terra. As vozes que mandaram Chapman
apertar o gatilho seriam do diabo, a quem Lennon teria oferecido a
própria alma em troca de fama e sucesso. A dívida seria cobrada quando o
beatle gozasse o momento mais feliz de sua vida. Parece fantasia? Pode
ser, mas a história a seguir é verdadeira. A infância e a adolescência
de Lennon foram marcadas por tragédias e desilusões: ele cresceu sob a
guarda da tia Mimi, sem a presença do pai e da mãe. Aos 17 anos,
estreitou laços com a mãe, mas ela morreu atropelada logo depois. O
primeiro casamento de Lennon, com Cynthia, foi um fracasso. Os Beatles
acabaram em 1969. Mesmo os primeiros anos de relacionamento com Yoko
foram conturbados. Os dois brigaram e se separaram em 1973. Naquele 8 de
dezembro de 1980, o casamento e a carreira do músico fluíam bem. Lennon
dizia que, pela primeira vez em 40 anos, estava feliz. Mera
coincidência? Não se você acreditar na conspiração. Chapman escutou a frase demoníaca “faça, faça, faça”, sacou o revólver e disparou cinco tiros, quatro deles certeiros. Pacto encerrado.
Como essa trama pode ser comprovada? Nas músicas, capas de discos e declarações dos Beatles, afirmam os defensores da teoria. No começo dos anos 60, Lennon revelou que o nome The Beatles
havia sido sugerido durante uma visão, por um homem que aparecera numa
torta flamejante. A criatura vinha do inferno e chamava-se Pepper, não
por acaso o sargento do aclamadíssimo trabalho dos rapazes de Liverpool.
Em 1966, declarou que os Beatles
eram mais famosos que Jesus Cristo. Junto com os parceiros de banda,
adotou a maçã como nome e símbolo da gravadora Apple (maçã) – como se
sabe, a fruta que o diabo ofereceu a Adão e Eva. Lennon e Yoko foram
morar no Edifício Dakota, onde foi filmado O Bebê de Rosemary, de Roman
Polanski, sobre uma seita à espera do nascimento do demônio. Arrependido
do contrato com o diabo, Lennon deu sinais de desespero. Ele pediu
socorro em canções como “The
Ballad of John and Yoko” – “Acho que eles vão me crucificar”. Como
explicar que Lennon vivia infeliz apesar de todo o sucesso de sua banda?
Explica-se: ele sabia que, se demonstrasse alegria, chegaria a hora de
morrer. Até dez anos depois da dissolução do grupo de rock mais cultuado
do planeta, Lennon disfarçou bem. Até que o endiabrado credor resolveu
pôr Chapman à frente do Edifício Dakota. Difícil acreditar? Não para quem ama uma conspiração.
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